Tem gente na cozinha, passando com carro de som, saltos trincando no meio de uma noite de sexta-feira, onde culturalmente as pessoas se põem a tentar descobrir a felicidade.
Sobem em palcos, ainda que não atores, atuam, ainda que não eles, perdem-se, ainda que todos saibam que da cartola só sai coelhos, e eles são velhos, feios e iguais. Mas paga-se qualquer preço para ver o final do show e há quem aplauda, menos eu.
Que tem dor nas vísceras ao ver o comportamento humano dando um novo significado a cultura, pessoas justificando atos inconscientes do mundo como forma de cultura, arte. Gente contemporânea seguindo pensamentos ultrapassados. Pegando sua parte mais feia para levar e deixar-se levar pelo todo.
Ouvi um buchicho na rua, fui ver, me disseram que tudo não passara da cultura que cada ser tem de mentir.
E tanta “cultura” sob meus olhos, regurgita-me anseios.
A cultura de maneira alguma justifica a arte, assim como arte alguma justificará as noites de sexta.
A cultura tem se tornado um vácuo, uma ilusão. O conhecimento tem sido usado para entulhar mentes, as crenças apenas na fotografia, a moral casou-se com o status, a lei motivo de piada e os costumes ficaram por justificar as reuniões na cozinha, os carros de som, até os aplausos.
Sim, exagero. A cultura me dói.
Dói pela confusão da palavra. Por tudo que se perdera em troca de qualquer valor. Pela mania do mundo de querer ser algo que não é. Por aprender a gostar o gosto dos outros, e brindar com isso, e iludir com isso e ser triste assim.
Então onde escondeu-se a arte dentro da cultura?
A cultura tem perdido a arte, deixando que escorresse por entre os dedos como areia no deserto, criando poços de água onde só há secura. Fazendo do mágico um excelente manipulador de sonhos. Sonho estes, que em tempos de arte enriqueceu o humano, hoje, com a cultura enaltece egos. Tanto, de cegar o coração.
No momento do caos, a arte não cultiva pensamentos de mesquinhez, ela surge para transformar e ir contra a qualquer meio de hipocrisia.
Não é separada pela cor, costumes, ideologias.
A arte é você. Por dentro.
É um conectar com o abismo de dentro, com o paraíso de dentro, com tudo aquilo que nada condiz à cultura. É um conectar que nenhum dicionário define.
É a esperança parada na esquina observando o cego atravessar.
E é sobre “dentro” que serão feitos (quiçá) nossos próximos encontros. Desse estranho que me persegue até a alma, deste estalar no coração que de tão grande é preciso que eu coloque pra fora, em escrita, em amor, em arte. Que não se corrompe pela massa, ninguém a rouba e ainda encontra-se intacta na mais pura forma dentro de cada um.
A arte é o centro de tudo que somos e não do que gostaríamos de ser. Ela é o encontro que deveríamos marcar todos os dias. E permanecer sem falta, atraso ou queixa.
É eu, tu, todos que optaram por escolher a verdade, única.
E toda essa nossa conversa pode soar ludibriosa, eu deixo, pois ontem foi sexta-feira e felizmente a mim, a cultura não engana mais.
Texto: Thyara Cristina do Nascimento – São Paulo, Setembro/2011.
Ilustração: Ismael Martinez Pascoal
Ilustração: Ismael Martinez Pascoal
Um comentário:
Bravo!!!eu so posso concordar com esta escrita profunda e verdadeira
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